Gostei de ver os policias subir a escadaria da Assembleia. Gostei de ouvi-los gritar "invasão, invasão", e ao chegarem às portas da Assembleia, qual decisão irrevogável de Portas, voltam para trás e desistem. Seria bonito alguém invadir e ocupar a casa da democracia mostrando que aquela casa é do povo e não dos políticos, e os policias estiveram perto. Marcaram a sua posição é certo, mostraram a sua força o seu descontentamento de uma forma que nunca nenhum outro manifestante pôde fazê-lo porque do outro lado das barricadas são eles que costumam estar a impedir.
Numa situação dessas, pensasse eu em subir um degrau lá estaria a policia a impedir logo de o fazer, quanto mais conseguir subir a escadaria toda. Tentasse eu abraçar um policia e beijar-lhe a viseira, seria logo agraciado com umas festas de bastão nas costas e contaria todos os degraus da Assembleia com a cabeça. Foi notório que houve o cuidado de evitar novamente confronto entre policias como houve há muitos anos atrás no Terreiro do Paço, que eles puderam ir até ao máximo possível e que só houvesse tentativa de invasão é que do outro lado da barricada, os policias que estavam a trabalhar e não podiam manifestar-se é que lhes fariam frente. Jamais os "laranjinhas" que estão no poder gostariam de repetido o episódio dos "secos e molhados" tal como evitaram a manifestação na Ponte 25 de Abril com medo da história repetir-se na altura do buzinão, tudo isto era Cavaco Silva o nosso primeiro-ministro.
Agora acabemos com a hipocrisia, mas os policias não são diferentes dos restantes manifestantes, e muitos dos problemas que os afectam são os mesmos que os 10 milhões de portugueses têm, e nas próximas manifestações deixem os outros gritar à porta da Assembleia tal como eles o fizeram, porque a maioria dos manifestantes que lá se deslocam são tão ordeiros e nem tapam a cara como alguns dos policias que lá estavam.
Ontem viveu-se uma das maiores, se não mesmo a maior manifestação em Portugal. O povo está cansado de austeridade, de cortes quer salariais, quer de direitos laborais. O povo está com dificuldade de por pão na mesa, de pagar a educação e a saúde dos filhos. O recente anuncio do aumento da TSU foi a gota de água, pois passa-se a pagar mais para a Segurança Social em contrapartida já tinham aumentado taxas moderadoras e reduzido subsídio de desemprego. Mas é mesmo a ponta o icebergue, em pouco mais de um ano aumentaram o IVA, reduziram escalões deduções de IRS, e o custo de vida aumentou substancialmente. Ele não cai já, é o que acho, mas abanou bem e é preciso não parar de contestar e é já no próximo dia 29 que se vai realizar mais uma manifestação da CGTP. Não é uma manifestação de sindicatos, para sindicatos, é uma manifestação para todos continuarmos a lutar pelo nosso futuro, pelos nossos direitos.
Já faz tempo que me obrigaram vir para a rua gritar, jamais me calarão, e bem-vindos quem se juntar às vozes que se juntarem a nós.
Se esta manifestação foi boa, a próxima tem de ser melhor, até finalmente mudarem o rumo das decisões politicas.
Porque é que eu vou participar?
Porque não recebo aumentos faz anos.
Porque tenho a progressão na carreira congelada.
Porque o Iva aumenta de forma obscena.
Porque as taxas moderadoras aumentaram, sendo que li hoje que uma visita às urgências poderá chegar ao 50 euros.
Porque retiraram o abono de família.
Porque só querem pagar para despedir 20 dias por cada ano trabalhado, até um limite de 12 anos.
Porque reduziram ou retiraram comparticipações em medicamentos.
Porque me querem tirar parte do subsídio de Natal.
Porque não querem taxar mais as grandes fortunas e os grandes lucros das empresas dizendo que é para evitar a fuga do capital para o estrangeiro.
Porque querem colocar como justa causa para despedimento, a inadaptabilidade e improdutividade, que pode levar a patrões sem escrúpulos a definir metas inatingíveis para dizer que não cumpre objectivos, e mudar de função o trabalhador para provocar a inadaptação
. É amanhã